Um papo com André Østgaard, o norueguês santista
- Na Marcação
- 31 de out. de 2018
- 6 min de leitura
Por Rodrigo Sousa
31/10/2018 | 22h11

Torcedor-personagem da história recente do Santos FC, André Østgaard hoje tem 25 anos e voltou ao seu lar em Knapstad, pequenina e gelada cidade na Noruega, localizada na região de Østlandet, sudeste do país. Após passagem de 7 meses no Brasil, voltar à baixada santista já está nos planos do ilustre torcedor.
André “Noruega” ou “Noru”, como ficou conhecido pelos torcedores nas plataformas online, ouviu pela primeira vez o apelido do lado de fora da Vila Belmiro, logo após entrevista pra TV , de um torcedor que veio pedir uma selfie. Desde então André adotou os apelidos e os utiliza sempre que se apresenta a brasileiros.
André teve seu primeiro contato com o Santos em uma viagem ao Brasil no início dos anos 2000, quando foi visitar seu tio que morava em Itu, interior de São Paulo. Nessa oportunidade ele comprou um souvenir com o escudo do Santos estampado, e seu irmão, um do Corinthians. “Isso não significava muito, mas achei o símbolo bonito, foi por isso que comprei”. Ele conta que seu tio norueguês também foi um torcedor do Santos quando morava no Brasil, mas Østgaard ficou sabendo disso apenas em 2015.

Qual foi o primeiro jogo do Santos que você assistiu?
“Comecei a assistir o Santos na Copa Libertadores de 2011, e isso foi bastante aleatório. Apostei dinheiro no Santos (em um site de apostas), mas assistindo ao jogo, imediatamente me apaixonei pelo futebol alegre e ofensivo do Santos, liderado por Neymar. Assisti quase todos os jogos desde então. O primeiro jogo que vi pessoalmente foi em 2013, no famoso confronto contra o Barcelona no Camp Nou. Apesar do resultado, eu estava feliz. Nessa viagem minha obsessão pelo Santos começou de fato.”
E quais as dificuldades de acompanhar o time da Europa?
“A maior dificuldade de seguir o Santos da Europa é o fuso-horário. A maioria dos jogos começam quando já são 1h, ou no pior dos casos, 3h aqui na Noruega. Como disse anteriormente, assisti a quase todos os jogos do Santos desde 2011, mas isso requer muito sacrifício… Quase sempre eu preciso dormir muito cedo, acordar na hora do jogo, voltar pra cama e acordar novamente às 6h para ir trabalhar. Não é fácil… mas com certeza vale à pena”.
Como foi sua passagem no Brasil, e quanto tempo durou?
“Meu tempo no Brasil foi o melhor da minha vida até agora. Em 2016 eu decidi comprar uma passagem só de ida ao Brasil para seguir meu sonho de viver no país e acompanhar o Santos em todos os jogos. E eu consegui por 7 meses, até quando meu dinheiro acabou e eu acumulei uma grande dívida. Foi quando tive que voltar à Noruega para pagar minhas contas e conseguir um emprego. Ainda estou pagando essas contas até hoje, 2 anos depois, mas tudo valeu cada centavo. Eu faria e farei tudo isso de novo! Fui a todos os jogos na Vila Belmiro, e também fui à Recife, Minas Gerais, Curitiba. Tudo pelo Santos. Sempre fui de avião ou caravana com outros torcedores. Todos sempre me trataram muito bem e hoje tenho muitos irmãos santistas. Sou muito agradecido por isso. O Santos tem os melhores torcedores do mundo!”
Aprendeu o português na vinda ao Brasil ou já sabia antes?
“Eu aprendi o português quando estive no Brasil, pois a maioria das pessoas no país não falam inglês, ou não tem boa pronúncia ou são apenas tímidas demais pra isso. Quando cheguei, só sabia o básico mas isso não era o bastante. Não tive aulas nem nada, só fui praticando conversando com as pessoas no dia-a-dia e lendo notícias do Santos pelo Twitter e em outras redes digitais.”
Tem ídolos?
“Sim, meus ídolos são Gabigol e Neymar. É clichê, mas é isso. Eu poderia dizer Pelé, mas ele é o Rei”.
Tem história com jogadores?
“Sim, em 2014 eu soube que Gabigol tinha sido para jogar o torneio COTIF pela Seleção sub-20, em Valência, então imediatamente comprei minhas passagens para a Espanha para torcer por ele. Depois do primeiro jogo eu corri para dentro do campo para conhecê-lo e li uma mensagem escrita por mim (que um amigo meu traduziu para o português). Ele ficou muito feliz, me deus suas caneleiras e ainda consegui fazer ele assinar minha bandeira do Brasil que eu tinha escrito ‘#Gabigol2016’, uma referência às Olimpíadas que estavam por vir, quando eu apostava que ele ia finalmente estourar na carreira e pela Seleção. Bom, no fim das contas eu estava certo! Quando voltei ao hotel que estava hospedado, chequei meu Twitter e Gabigol estava me seguindo - e segue até hoje. Eu o reencontrei várias vezes desde então”.

“Também fui em torneios COTIF em 2015 e em 2017, mas para acompanhar o sub-20 do Santos. Em 2017 o técnico do time Aarão Alves me convidou para a concentração. Eu me tornei parte do time: motorista da comissão técnica, fotógrafo, tradutor, segurança, ia aos jogos. Fiquei muito amigo dos jogadores, saímos a passeio em Valência, estávamos juntos nas preleções dos jogos, ajudei de toda forma possível, vivi com a equipe toda durante a estadia na Espanha. Fiquei tão próximo dos garotos que eles até me convidaram para o culto privado um dia, me senti abençoado”.
“Um dia, Nicolas Bernardo esqueceu o som portatil que a equipe utilizava para ouvir músicas antes do jogos dentro do ônibus, e os jogadores ficaram sem, pois não podiam deixar o hotel nesse dia por causa da concentração. O nível de confiança entre mim e os jogadores era tão grande, que Emerson Barbosa me emprestou seu cartão de crédito para que eu comprasse um som novo para o time, me senti muito honrado com isso. Jamais esquecerei das duas semanas que passamos juntos, eles se tornaram meus irmãos e eu tenho muito orgulho disso”.
“No fim da excursão, o técnico Aarão ainda me prometeu que ia fazer Pelé me mandar um vídeo, pois eu merecia pelo tamanho comprometimento que tenho com o clube, e eu consegui o vídeo! Eu perdi o fôlego! Senti como se tivesse ganhado na loteria… Quem sabe um dia ainda consigo conhecer Pelé pessoalmente… Eu provavelmente desmaiaria (risos).”

Você acredita que, como torcedor estrangeiro, pode ajudar o clube de alguma maneira?
“Sim, com certeza. Como fã europeu, sei em primeira mão os problemas de se torcer por um clube o clube de fora do Brasil. Tenho formação em Marketing e Vendas e também possuo uma rede de torcedores estrangeiros que querem ajudar o clube voltar a crescer pelo mundo, e eu tenho certeza que podemos ajudar o Santos, se eles quiserem. Mandei cartas ao antigo presidente Modesto Roma, agora a Orlando Rollo e José Carlos Peres, e também ao homem-forte de marketing Marcelo Frazão sobre como obter atenção de fãs do clube de fora do país, criando pequenas redes sociais em inglês ou abrir a possibilidade dos gringos se tornarem sócios e fundarem uma embaixada europeia, mas até agora não recebi nenhuma resposta oficial.”
Como são as ações do clube na Europa? Você acha que tem como melhorar?
“Inexistente. O clube não se importa nem faz esforço para cativar fãs fora do Brasil. É impossível comprar uma camisa do clube. Eu ajudei mais de 20 fãs a comprarem camisas pelo planeta, mas via PayPal e Western Union. Por se submeter a taxas e frete dessas empresas, essas pessoas pagaram mais de R$500 por camiseta. É loucura. O Santos poderia ganhar muito dinheiro com o interesse dos gringos, mas por algum motivo estão dormindo. Meu sonho é me tornar Sócio Rei. Na carta que mandei sugeri a criação de uma embaixada europeia/global do Santos, conheço mais de 100 torcedores do clube fora do país, é um grande mercado, mas isso ainda não é possível.”
Foram, ao total, quantas visitas ao Brasil para acompanhar o Santos? Pretende voltar no futuro, dessa vez para morar?
“No total estive no Brasil três vezes. Duas para visitar meu tio em Itu e outra pelo Santos. Minha próxima viagem deve ocorrer em março de 2019, e eu mal posso esperar por isso! Será apenas uma viagem de férias, infelizmente, mas espero que logo eu possa voltar e viver permanentemente no país. Trabalhar pelo Santos é o meu maior sonho. Eu também brinco um pouco que, quem sabe em 30 anos eu possa ser presidente do clube, mas o tempo dirá. O Santos é a minha vida!”
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