Tríplice Coroa: 15 anos do feito histórico
- Na Marcação
- 20 de nov. de 2018
- 5 min de leitura
Por Vitor Bueno
20/11/2018 | 23h30
Conquistar três títulos no ano, não é tarefa fácil para um time de futebol. É necessário muito preparo, planejamento e qualidade, além de muita harmonia em campo e nos bastidores e concordância entre diretoria, comissão técnica e jogadores. Atrelado a tudo isso, está o apoio da torcida, que é fundamental para um time ter sucesso. Ao falar dessa forma, a fórmula parece fácil, mas na prática não é bem assim.

No Brasil, apenas um time é detentor desse feito. Em 2003, o Cruzeiro deu exemplo de organização e luta e liquidou o Campeonato Mineiro, o Brasileiro e a Copa do Brasil. No cenário nacional, não deixou nenhum título para os rivais e conquistou um “título” nunca antes visto no país, a Tríplice Coroa.
A campanha repleta de conquistas foi histórica e até hoje guarda um grande espaço na memória do torcedor cruzeirense, como vemos através do caso de Gabriel Conceição, torcedor celeste que não era cruzeirense na época, mas garante, só passou a torcer pelo Cruzeiro por conta da inesquecível temporada de 2003. “Eu sempre tive, quando moleque, uma admiração pelo Corinthians, porque o Pedro, meu irmão mais velho, era corintiano, então sempre admirei o Pedro e é meio que natural você seguir, porque meu pai nunca influenciou assim em questão de time. Só que daí, lá pelas tantas esse Pedro resolveu que não era mais corintiano e era são-paulino, depois virou atleticano, e aí quando ele deixou de ser corintiano eu percebi que na verdade eu torcia pro time que o Pedro torcia, mas não queria ser são-paulino e fiquei nessa sem mato e sem cachorro, né, não sabia direito pra que time torcer, mas sempre tive admiração pelo Cruzeiro também, porque meu tio Paulinho era cruzeirense e eu via a animação dele e sempre gostava. Até que em 2003 foi o ano que o Cruzeiro levou tudo e eu vi aquilo na TV e achava muito bonita a torcida azul, achava muito bonita a relação do meu tio também com o Cruzeiro e dali para frente não teve como, foi se entregar mesmo e falar agora eu sou cruzeirense por opção minha, não por influência de ninguém. Quando eu pude escolher realmente, eu escolhi ser cruzeirense.”
As conquistas só vieram mediante um grande preparo, que começou já em 2002 e teve continuidade na pré-temporada 2002/2003, com a manutenção do treinador Vanderlei Luxemburgo e de peças importantes do elenco, além da chegada de jogadores de muita qualidade para agregar ao plantel celeste. O historiador do Cruzeiro, Anderson Olivieri, disse que a ambição do treinador transmitida ao elenco logo após a saída do time do Brasileirão de 2002 foi fundamental para as conquistas. “Dentre os principais motivos, primeiro eu enxergo a obsessão do Luxemburgo. Ele assim que terminou Campeonato Brasileiro de 2002, o Cruzeiro quase se classificou para a fase final, mas acabou eliminado na última rodada por causa de uma combinação de resultados e o Luxemburgo não recebeu aquilo muito bem, dentro do elenco ele fez muitas cobranças, disse que agora eles assistiriam as finais do campeonato pela televisão se aquilo para eles estava bom se eles estavam confortáveis com aquilo, então ele já começou incutindo no pessoal uma obsessão para o resultado já em 2002, já que uma boa parte daquele elenco de 2002 ficaria para 2003.”, disse.
Com um esquema qualificado por muitos como “mágico”, Luxemburgo utilizou o clássico e famoso 4-4-2, com o acréscimo de uma organização em forma de losango no meio-campo, utilizando Maldonado como primeiro volante, Wendell e Augusto Recife como segundos volantes - que ajudavam bastante na saída de bola e construção das jogadas – e com o trunfo Alex na armação, o grande pilar de sustentação daquele time estava nesse setor. O excelente goleiro Gomes salvava o time quando precisasse e trazia segurança. Na zaga, Edu Dracena e Cris seguravam a barra e contavam com a ajuda de Maurinho e Leandro nas laterais. No ataque, Deivid e Aristizábal ficavam responsáveis pelos gols do time estrelado. Era uma verdadeira máquina e, além de um time titular competente, o grande diferencial era a qualidade dos jogadores da reserva, sempre com suplentes bons o suficiente para exercerem a função com extrema competência. O setorista do Cruzeiro, Guilherme Guimarães comentou o fato da grande força que tinha o elenco cruzeirense à época: “lembro bastante daquele ano, principalmente de alguns jogadores como Alex, Aristizábal, Maurinho, Maldonado, o goleiro Gomes, o zagueiro Gladstone, que ficou marcado na final da copa do Brasil por aquela história das fraldas e da medalha, o Vanderlei Luxemburgo fazendo aquela preleção no vestiário, o Leandro lateral, o Augusto Recife. Então o Cruzeiro tinha um elenco muito forte, o Mota atacante, Márcio Nobre. São vários jogadores importantíssimos que defenderam o Cruzeiro naquele ano e que formaram o esquadrão. Todo cruzeirense lembra de 2003, até quem não era nascido conhece essa história de tamanha importância que tem para o Cruzeiro, então foi um ano mágico de fato.”
A primeira conquista foi o Mineiro, de forma invicta, o Cruzeiro não deu margem para os rivais do estado e liquidou o estadual. Naquele ano a disputa ocorreu em uma única fase com apenas um turno. No sistema de pontos corridos, quem acumulasse mais pontos seria o campeão, até que, no dia 16 de março, após vitória por 4 a 0 sobre a URT em Patos de Minas, o Cruzeiro se tornou o campeão mineiro de 2003 com uma rodada de antecedência. O título conquistado ali indicaria um início de temporada com o pé direito.
O segundo título daquela temporada foi a Copa do Brasil, conquistada também de maneira invicta com vitória sobre o Flamengo na final. No primeiro jogo da final, em uma Maracanã com mais de 72 mil pessoas, o jogo terminou empatado, após gol marcado pelo camisa 10 Alex – sempre ele – o Cruzeiro sofreu o empate vindo dos pés de Fernando Baiano, nos acréscimos. No jogo da volta, Mineirão lotado e um primeiro tempo avassalador, 3 a 0. Deivid, Aristizábal e Luisão foram os responsáveis pelos tentos da Raposa. Na segunda etapa, Fernando Baiano descontou para os cariocas. Sem efeito. Cruzeiro campeão e mais um título para a conta do ano.
Para fechar a grande glória da temporada, um título o qual as possibilidades eram avistadas desde o início da temporada. Líder até a 8ª rodada, foi desbancado pelo Santos duas vezes, mas após um acerto de Luxemburgo junto aos mais experientes no vestiário, o time voltou a render o máximo, recuperou a liderança na 29ª rodada e não largou mais, dali pra gente, era rumo ao título. Após uma boa sequência de vitórias interrompida por alguns tropeços, o time não se abalou e venceu os jogos restantes e se sagrou campeão com duas rodadas de antecedência, após vitória por 2 a 1 sobre o Paysandu, em Mineirão lotado.
Após a conquista dos três campeonatos que disputou, o Cruzeiro alcançou algo inédito no futebol tupiniquim, a Tríplice Coroa, feito visto até hoje com muito orgulho pela torcida e motivo de comemorações mesmo 15 anos após aquela temporada mágica.
Comments