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A construção e a consolidação: de Palestra a Cruzeiro

  • Foto do escritor: Na Marcação
    Na Marcação
  • 4 de dez. de 2018
  • 13 min de leitura

Atualizado: 18 de dez. de 2018

Por Vitor Bueno

04/12/2018 | 23h26


Os escudos do Cruzeiro


O Início

A partir do final do século XIX, iniciou-se a vinda de imigrantes italianos para o Brasil, mais precisamente no ano de 1870 e, entre as décadas de 1880 e 1910, esse fluxo migratório foi intensificado. Os italianos, em sua maioria de origem humilde, vinham para o Brasil enxergando uma nova terra e buscando novas oportunidades de emprego e de mudança de vida. Muitos desses imigrantes eram egressos de regiões rurais da Itália e sofriam com a crise de emprego que o seu país natal atravessava, gerada principalmente pelo processo de industrialização italiano. Dessa forma, o alto crescimento populacional não foi acompanhado pelo crescimento econômico e ficou superior aos números de ofertas de emprego, o que fez com que os italianos buscassem a vida em outros países, como o Brasil, que surgia com o espectro de novas oportunidades de vida.


Atrelado a isso, a vinda dos estrangeiros está também ligada de forma intrínseca à abolição da escravatura e ao fim do tráfico negreiro, que levou à proibição da entrada de novos cativos oriundos do continente africano, o que ocasionou uma carência de mão de obra no Brasil, que foi suprida pelos imigrantes. Além disso, havia na época um plano extremamente racista, fomentado pelas elites brasileiras, de “branqueamento da raça brasileira” através da mudança dos europeus para o Brasil.


Quando chegaram em terras brasileiras, os imigrantes se concentraram nos maiores polos urbanos e, no caso dos italianos, a maior parte foi levar a vida no Sul e Sudeste do país. No caso do Sudeste, as maiores colônias italianas foram formadas no estado de São Paulo, onde os ítalos trabalhavam nas lavouras de café e nas indústrias da capital do estado. Porém, também haviam aglomerações de imigrantes em outros estados, como em Minas Gerais, que foi o terceiro a receber mais estrangeiros vindos da Itália, ficando atrás apenas de São Paulo e Rio Grande do Sul.


Imagem de um navio com imigrantes italianos atracado no Porto de Santos em 1907

As colônias italianas pelo Brasil tinham grande influência do futebol e trouxeram consigo, de seu país natal, a paixão pelo esporte mais popular do mundo; o incentivo à prática do esporte era grande nas organizações italianas, o que nutria ainda mais essa paixão. Esse fator influenciou e embutiu, de maneira direta, o desejo nos italianos de criarem clubes de futebol no país para torcerem e, principalmente, exercitarem a prática do ludopédio. Por conta desse movimento, foi criado no ano de 1914, no estado de São Paulo, um clube chamado Palestra Itália, que posteriormente se tornaria o que é hoje a Sociedade Esportiva Palmeiras. Passados sete anos da fundação do Palestra em São Paulo, foi a vez de Minas Gerais adotar também um Palestra Itália, em 1921, foi fundado em Belo Horizonte o time que, após a renomeação, seria o que conhecemos hoje por Cruzeiro Esporte Clube.


A imigração italiana chegou ao seu ápice em Minas na década de 1920, na qual o total de italianos habitando o estado era de 42.943. Os imigrantes estão intimamente relacionados à construção de Belo Horizonte, já que quando o projeto da cidade começou a ser construído, o engenheiro chefe da Comissão Construtora da Nova Capital, Francisco Bicalho, juntamente com o governo do estado, impulsionou a vinda de imigrantes para Belo Horizonte. Este fator denotou um grande crescente na população italiana na capital mineira, já que eles foram utilizados como uma forma de sanar os problemas de mão de obra enfrentados na época pela construção da cidade.

Apesar da vinda em massa de italianos para Belo Horizonte, na década de 1920 era visto um claro declínio nos números dessa população na cidade, que em 1920 se reduziram para 8,1% - comparados aos 13,8% em 1905 – dos habitantes da capital e passaram ao número de aproximadamente 4.500 pessoas. Mesmo com isso, eles continuaram presentes em Belo Horizonte e nutriam ainda a criação de um clube de futebol oriundo de italianos em Minas.


Inspirados no “irmão” Palestra, de São Paulo, desportistas da colônia italiana de Belo Horizonte aproveitaram a vinda do cônsul italiano em Minas Gerais e lhe apresentaram a ideia da criação de um time de futebol. O projeto, que seguia os moldes do Palestra paulista, agradou a população da colônia e foi apoiado pela grande maioria, já que o clube representaria os italianos de Belo Horizonte.


A fundação do clube foi decidida na fábrica de materiais esportivos e calçados de Agostinho Ranieri, situada à rua dos Caetés. Naquele momento, no dia dois de janeiro de 1921, nascia a Società Sportiva Palestra Itália. Na reunião, que ocorreu na presença de 95 membros fundadores, ficaram decididos o escudo do clube, as cores (vermelho, verde e branco, em alusão à bandeira italiana) e o uniforme, criado a partir dos desenhos do designer Arthur Lemmes. A primeira diretoria eleita ficou por conta de Aurélio Noce, que foi eleito presidente; Giuseppe Perona, o vice; Bruno Piancastelli, secretário; Aristóteles Lodi, tesoureiro; Domingos Spagnulo, João Ranieri e Antonio Pace, comissão de esportes.


O uniforme pioneiro da história do clube era formado pela camisa verde, com o escudo do lado esquerdo do peito, pelo calção branco e pelas meias vermelhas. O escudo era em forma de um losango equilátero e divido ao meio por um traço horizontal, com a cor verde em cima e a vermelha embaixo; no centro do escudo, ficava um círculo branco com a letra “P” no meio em amarelo. No início, apenas integrantes da colônia italiana podiam utilizar o uniforme e participar do Palestra como jogadores ou associados, porém, em 1925 a cláusula que impunha essas regras foi retirada do estatuto do clube.



Réplica da camisa do Palestra Itália de 1921 lançada em 2007 pelo Cruzeiro

Palestra: um time que veio para incomodar

O time do Cruzeiro era formado por operários da colônia italiana e surgiu na capital mineira em contrapartida aos perfis dos principais times da cidade, Atlético e América, que possuíam times formados por estudantes universitários, pertencentes às famílias mais influentes e ricas e que representavam a “elite financeira e intelectual” de Belo Horizonte. O elenco do Palestra dispunha de funcionários das mais diversas profissões, que iam de pedreiros, pintores e marceneiros até comerciantes e policiais.


Após a cláusula retirada em 1925, a participação de pessoas de outras nacionalidades no clube foi aberta e o crescimento da instituição ganhou maiores possibilidades e proporções. Com isso, chegou o primeiro jogador de nacionalidade diferente no time, Nereu era de origem sírio-libanesa e jogava anteriormente no Sírio Horizontino. Outra mudança feita na época foi o aportuguesamento do nome do clube, que passou a se chamar Sociedade Sportiva Palestra Itália.


O projeto dos imigrantes italianos era bastante ousado, eles buscavam fazer frente e até ultrapassar os maiores e melhores clubes de “BH”, que eram o Atlético, o América e o Yale. O terceiro também era de origem italiana e deixou de existir em 1925 após uma crise e com o grande crescimento do Palestra; com o desaparecimento do Yale, muitos integrantes do clube migraram ao novo time de italianos da cidade.


A ambição dos integrantes da colônia italiana de Belo Horizonte com a criação do Palestra logo surtiu efeito e o time mostrou que chegou mesmo para incomodar. Já em 1923 o clube tratou de construir seu primeiro estádio; a diretoria comprou com recursos próprios um quarteirão da Prefeitura por aproximadamente 50 mil réis e se tornou o único clube da capital que não solicitou ajuda às autoridades do município e do Estado para a aquisição de terreno e para a construção do seu estádio, ao contrário de América, Atlético e Sete que foram agraciados pelo poder público. Localizado no bairro do Barro Preto, o estádio foi nomeado de Estádio Barro Preto e teve sua estreia realizada no dia 23 de setembro de 1923, em uma partida contra o Flamengo do Rio que terminou empatada em 3x3.


Estádio Juscelino Kubitschek de Oliveira, popularmente nomeado de Estádio do Barro Preto

Quando se fala em campeonatos, o Palestra chegou firme e bateu de frente com os principais times de Belo Horizonte. No Campeonato da Cidade, que na época era considerado como o Campeonato Mineiro, os novatos italianos surpreenderam e foram campeões em 1928, 1929 e 1930. Após esse rápido crescimento do time dos ítalos, os outros clubes da cidade trataram de se reorganizar e a Associação Mineira de Esportes, a primeira liga profissional do estado, foi criada em 1933.



O time celeste já teve o início de sua história vitorioso e conquistou muitos dos títulos que disputou. Como Palestra, foram 13 títulos, sendo quatro Campeonato Mineiro, seis Torneio Início, um Torneio Otacílio Negrão de Lima, um Torneio Imprensa e um Torneio Dante Alighieri.


“O Cruzeiro nasceu grande em termos de torcida e em termos de time, de conquistas não foi tão diferente. O Cruzeiro é de 1921 e em 1927 já conseguiu conquistar o tricampeonato Mineiro, 1927, 1928 e 1929. Um feito inimaginável diante de dois clubes muito mais antigos, como o América, o Atlético; e o Cruzeiro já conseguiu um feito de tricampeonato.”, diz Anderson Olivieri, historiador do Cruzeiro.


Palestra Itália tricampeão Mineiro

Esse rápido e grande crescimento trouxe muito mais notoriedade ao clube, que passou a ser mais conhecido na cidade e no estado de Minas Gerais, o que o fez configurar como um dos maiores clubes de Belo Horizonte. Um time tão novo, recém fundado, até então com menos tradição e idade que outros clubes da cidade e que, mesmo assim, enfrentava de igual para igual seus oponentes e buscava sempre crescer cada vez mais. O projeto ousado e ambicioso dos operários italianos já tinha dado certo – muito além do esperado - e ainda reservava muito mais crescimento em termos de clube e conquistas.


A Mudança

Porém, um empecilho surgiu nos planos do Palestra Itália mineiro. No ano de 1939, após a invasão por parte da Alemanha Nazista na Polônia que foi repreendida e prontamente respondida pelo Reino Unido, pela França e pela Comunidade das Nações, foi declarada guerra a Hitler e, naquele ano, era dada a largada a maior guerra já vista na história do mundo, a Segunda Guerra Mundial.


Após um momento de grande indefinição e neutralidade do Governo Brasileiro, comandado por Getúlio Vargas, o Brasil, que seguia os passos dos Estados Unidos, cedeu à pressão feita pelos norte-americanos após o ataque a Pearl Harbor esse posicionou em relação ao conflito. Foi declarado estado de beligerância com Alemanha, Itália e Japão, os países do Eixo. Após o posicionamento das autoridades brasileiras quanto à Guerra, o país, que já passava por uma ditadura, sofreu mais retaliações na relação entre Governo e povo; Vargas proibiu a utilização por qualquer instituição, associação ou organização de qualquer nome que fizesse apologia ou citação, direta ou indireta aos países do Eixo.


“Quando o Brasil entrou na Guerra, em 1942, o Governo proibiu a utilização de referências aos países do Eixo e o nome de entidades ou clubes esportivos. O tradicional Hospital Alemão em São Paulo virou Hospital Oswaldo Cruz; o Syndicato Condor converteu-se em Serviços Aéreos Cruzeiro do Sul; um dos mais antigos clubes de futebol do Brasil, o Sport Club Germânia virou Esporte Clube Pinheiro; o Palestra Itália de Minas Gerais passou a se chamar Cruzeiro e o de São Paulo, Palmeiras.”, diz Roberto de Sousa, professor de história.


Com a imposição feita pelo Governo Brasileiro devido aos ditames da Guerra, os Palestra Itália ficaram encurralados e não tinham outra saída a não ser mudar de nome. O de São Paulo adotou Sociedade Esportiva Palmeiras.


Já o Palestra mineiro encontrou uma certa dificuldade para fazer a troca. Em uma reunião entre os membros da diretoria e do conselho, a incerteza pairou a cabeça dos dirigentes, que não sabiam qual nome colocar. O Decreto-Lei que forçava a mudança do nome foi publicado no dia 30 de janeiro de 1942 e o à época Palestra tinha uma partida a disputar contra o Atlético Mineiro no dia primeiro de fevereiro. A grande dúvida e indefinição nos bastidores e o curto intervalo de tempo fez o time entrar em campo contra os rivais belorizontinos trajando uma camisa azul e três listras brancas horizontais, sem nome e sem escudo.


No dia quatro de fevereiro o problema foi, de certa forma, resolvido; foi adotado pelos dirigentes o nome provisório de Palestra Mineiro. Após isso, houve uma maior necessidade de se criar uma identidade mais nacionalista e tornar o clube numa entidade totalmente brasileira, algo que foi fomentado por um novo Decreto-Lei que impediu também a utilização de nomes como Palestra; com a pressão gerada, o nome provisório seria trocado e o agora Palestra Mineiro passaria a se chamar Ypiranga, em homenagem ao histórico Rio, símbolo da Independência do Brasil. O novo nome também foi adotado de maneira provisória, no dia dois de outubro de 1942 e durou apenas cinco dias, pois em uma nova assembleia no Barro Preto, realizada aos sete dias do mês de outubro do mesmo ano, foi escolhido, agora em definitivo, o novo nome que permanece até os dias atuais.


Escudo utilizado apenas no uniforme enquanto Palestra Mineiro

Portanto, ali, na sala de reuniões da sede do antigo Palestra Itália e provisoriamente Palestra Mineiro e Ypiranga, localizada no Bairro do Barro Preto em Belo Horizonte, Minas Gerais, um dos maiores times do país traçava um marco em sua história, a Sociedade Sportiva Palestra Itália se tornara Cruzeiro Esporte Clube.


As mudanças ainda seriam outras e não ficariam apenas no nome. As cores referentes aos países do Eixo também estavam vetadas e o clube teria que trocá-las, até porque a antiga coloração do Palestra não fazia sentido agora com o novo nome. Cruzeiro vinha para homenagear a principal constelação presente nos céus sul-americanos, o Cruzeiro do Sul; então, nada mais justo que fazer jus ao nome e ao motivo dele com a cor do céu estrelado na camisa, o azul que envolta as estrelas durante as noites da América do Sul.

Não só a cor deveria mudar como também o escudo, que deveria ser condizente à nova nomeação, portanto as estrelas do Cruzeiro do Sul foram adotadas como parte principal do novo símbolo, envoltas por um círculo e pelo escrito Cruzeiro E.C, porém, no uniforme a inscrição do nome do clube não aparecia. Estava ali criada a nova identidade visual do clube.


Réplica, lançada em 2007, da primeira camisa utilizada pelo Cruzeiro após a mudança de nome em 1942

Um clube que seguiu grande

O nome foi mudado, a maneira como o time aparecia também, mas as ambições continuavam as mesmas. Agora o clube seguiria em busca de reconhecimento e conquistas como Cruzeiro. Já nos dois primeiros anos após as mudanças, o time conseguiu quatro conquistas, sendo dois Campeonato Mineiro e dois Torneio Início, em 1943 e 1944; em 1945 veio a conquista de outro Mineiro e um novo tricampeonato, o que haviam conseguido logo nos primeiros anos de Palestra, conseguiram também nos primeiros anos de Cruzeiro. Esse novo início vitorioso mostrava que o clube seguiria com mais força ainda para vencer novos títulos.


De 1943 até os dias atuais foram 65 títulos oficiais conquistados sob a alcunha de Cruzeiro e uma grande notoriedade alcançada em território nacional e sul-americano. O clube soma 10 conquistas de campeonatos a nível nacional, das quais quatro são Campeonato Brasileiro e seis Copa do Brasil. Além disso, na América do Sul o Cruzeiro já conquistou quatro de maior notoriedade, sendo duas taças Libertadores da América e duas Supercopa da América do Sul, competição disputada entre os anos de 1988 e 1997 que reunia todos os clubes que já haviam conquistado a Libertadores.


A relevância continental do time celeste é tamanha que o atacante argentino Caniggia, carrasco do Brasil na Copa do Mundo de 1990 proferiu a seguinte frase em relação ao clube: “Todos podem fazer sua fama e ganhar títulos, mas o único que virá à Argentina e fará tremer nossos corações será o Cruzeiro, La Bestia Negra del Continente”.


A célebre frase do ídolo dos ‘hermanos’ gerou uma fama ao Cruzeiro que permanece até hoje e é retomada pela sua torcida em um de seus cânticos, que diz: “O mundo inteiro teme La Bestia Negra”. O apelido se tornou muito maior do que o imaginado e virou uma forma de reconhecimento entre os vizinhos da América do Sul, além de que se tornou uma das identidades do time no cenário internacional, tanto que o clube tornou isso uma identidade visual em 2018. A partir da disputa da Libertadores 2018 foi criada a marca “La Bestia”, que acompanha o time desde então em produtos, iniciativas e aparições em campanhas nos canais de televisão. A adoção da marca remete à época em que a alcunha ficou famosa, devido ao fato de muitos considerarem o Cruzeiro como a equipe mais temida e quase imbatível durante as décadas de 1980 e 1990.


A marca "La Bestia", criada em 2018

Cruzeiro e Mineirão lado a lado

O time do Barro Preto ganhou notoriedade no país durante a década de 1960, a partir da segunda metade desta. Nesse período veio a construção e fundação do Estádio Governador Magalhães Pinto, o Mineirão; com o intuito de servir à cidade de Belo Horizonte e ao Estado de Minas Gerais, o Estádio se tornou majoritariamente do Cruzeiro em termos de utilização, principalmente após 2013, quando o Atlético Mineiro, rival que também jogava no Mineirão, passou a mandar a maioria de seus jogos no outro estádio da cidade, a Arena Independência.


“O Cruzeiro nacionalmente vai se tornar uma potência em termos de conquistas com a taça Brasil de 1966; ali o Cruzeiro realmente resplandece para o cenário nacional e até internacional. Isso coincidentemente ou não coincidentemente, mas isso acontece no momento do surgimento do Mineirão, da construção do Mineirão em 1965.”, diz Anderson Olivieri.


É notório que Cruzeiro e Mineirão sempre andaram lado a lado; fundado em 1965, o principal palco do futebol mineiro já recebeu um título celeste logo em 1966, e foi um dos mais importantes, a primeira conquista nacional do clube, que alavancou o sucesso dentro e fora do país. Na história recheada de conquistas, o Estádio presenciou as maiores e mais disputadas partidas e os mais alegres títulos, porém, também recebeu dias tristes, como a derrota na final da Libertadores de 2009 para o Estudiantes.


Bandeirão e festa da torcida celeste no Mineirão

Lembranças italianas

O Cruzeiro nasceu grande em termos de títulos, graças ao sucesso do Palestra e deu continuidade aos feitos, ampliando os horizontes do clube e o transformando verdadeiramente em uma potência muito maior que o imaginado, que transcendeu barreiras e saiu de Belo Horizonte e Minas Gerais para alcançar o estrelato nacional e continental. A ambição dos operários italianos enraizou de tal forma na instituição que é motivo de orgulho até os dias mais atuais, pois existe de fato um saudosismo quanto à importância e aos feitos dos imigrantes para a história de um dos times mais vitoriosos do Brasil. Essa ambição foi iniciada por um projeto de criação de um clube e logo se transformou em títulos, grandeza e notoriedade. O espírito vitorioso e batalhador do operariado ítalo de Belo Horizonte contribuiu grandemente no crescimento do clube e em suas conquistas, tanto em termos de títulos como de estrutura, como a construção do Estádio do Barro Preto.


“A fundação do Cruzeiro é uma história muito bonita. Um clube fundado por imigrantes italianos que vieram ao Brasil em busca de uma história nova, de uma vida nova, que aqui chegaram para trabalhar como operários na construção civil e em diversas outras atividades daquela sociedade da época. O Cruzeiro então foi formado por pessoas batalhadoras, trabalhadoras; e daí que a gente faz uma ressignificação, um contexto com o slogan utilizado recentemente pelo clube, ‘O Time do Povo’. Então é uma frase que veio da essência, veio dos primórdios, da fundação do Cruzeiro, que teve essa história muito bonita de fundação.”, diz Guilherme Guimarães, setorista do Cruzeiro.


Campanha "O Time do Povo" criada em 2015 pelo Cruzeiro

Cruzeiro: a história do Brasil, a voz do povo

As conquistas e a história do Cruzeiro são marcantes e retratam muito as condições das sociedades que viveram e representaram o Brasil ao longo dos anos. Falar da história do Cruzeiro é falar também da história do Brasil; é mostrar os contextos da fundação que se relacionam diretamente com a situação que o país vivenciava logo após a abolição da escravatura e com o recebimento de imigrantes egressos de países europeus, é mostrar a história da mudança de nome, que está ligada de maneira intrínseca à ditadura da Era Vargas e o contexto do Brasil na Segunda Guerra Mundial e a relação com os países do Eixo e com os fascismos de Adolf Hitler e Benito Mussolini, é mostrar os diferentes períodos históricos e econômicos já atravessados pelo Brasil.


O paralelo feito é muito maior quando a história de um dos maiores clubes do país é analisada de maneira crítica e apresenta um grande apanhado da busca do povo por representatividade e notoriedade em meio à uma sociedade já demarcada socioeconomicamente. O Cruzeiro surgiu como uma representação do povo, um desejo fomentado por pessoas comuns de fundar um clube apenas para terem o gozo de praticarem o esporte que mais amavam.


O Cruzeiro é sim mais que um clube de futebol e representa muito mais que meras conquistas e títulos, o Cruzeiro Esporte Clube é uma instituição que representa o povo e traz representatividade em toda a sua história. É uma das histórias mais bem elaboradas do país e não seria tão bela se fosse escrita e premeditada.


Então, conheçam o clube que foi, em menos de um século de história, um projeto ambicioso e um berço de grandes conquistas, uma representatividade de classes mais pobres e uma instituição rica em feitos e história. Conheçam o clube que é a voz do povo. Conheçam o clube que foi de Palestra a Cruzeiro.

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