Sócrates e a Democracia Corintiana
- Na Marcação
- 8 de nov. de 2018
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Por Enrico Ziotti
08/11/2018 | 20h17
No futebol, ídolos surgem devido a campanhas extraordinárias, gols importantes, defesas cruciais para um título, entre outros fatores. Por outro lado, existiu um jogador que além da incrível qualidade dentro de campo, teve grande importância para a política nacional.
Doutor Sócrates, Doutor, Magrão, Calcanhar de Ouro ou simplesmente Sócrates: Era dessas formas que o belenense Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira era conhecido. O ídolo do Corinthians nasceu dia no dia 19 de fevereiro de 1954 e encantou o Brasil não só com seu futebol, mas também com sua maneira política de ver o mundo

Início da carreira
A carreira do craque se iniciou em Ribeirão Preto e rapidamente atraiu holofotes do Brasil inteiro. Além de craque do clube, Sócrates pouco treinada já que tinha que conciliar a carreira no futebol com os estudos, pois era estudante de Medicina na Universidade de São Paulo. Após 268 jogos, 101 gols e a conquista da Taça Cidade São Paulo (1977) pelo time do interior Paulista, Sócrates foi transferido para o Corinthians.
Surge um ídolo
Acompanhado de craques como Casagrande, Wladimir, Palhinha e Zenon, o Doutor viveu tempos de ouro no Timão que trouxeram títulos importantes, como três campeonatos Paulistas sendo dois deles consecutivos (1982/1983).
Sócrates sempre foi visto como um líder dentro e fora de campo. Para Régis Angeli, ex-técnico do Botafogo-SP e jogador da Ponte Preta na década de 80, relata que a inteligência e a disciplina do Doutor eram os diferenciais: “Ele era muito calmo dentro de campo, não era de bater boca com ninguém ali e era muito justo. Era um líder devido a inteligência e a técnica que tinha, passava confiança aos jogadores do Corinthians. Jogar contra aquele Corinthians não era fácil”.
Toda inteligência e habilidade levou o jogador para a Seleção Brasileira e teve sucesso com a amarelinha: atuou 69 vezes e marcou 25 gols. Foi um dos destaque durantes a Copa de 1982, edição em que o Brasil foi eliminada pela campeã da competição (Itália) pelo placar de 3x2 e ficou em 5º lugar.
A maneira crítica que Sócrates via o mundo o aproximou de movimentos democratas principalmente durante a década de 80, período que o Brasil vivia uma Ditadura Militar (1964-1985). Além de ser abertamente a favor do movimento Diretas Já (1983-1984), o Doutor, junto com outros jogadores do Corinthians, iniciou a Democracia Corintiana, movimento que até hoje é considerado o maior movimento político da história do futebol brasileiro.
A Democracia Corintiana
O movimento teve início em 1982, época que o Corinthians não vivia uma boa fase no Campeonato Brasileiro e que a diretoria alvinegra passava por mudanças importantes: Waldemar Pires foi eleito para assumir o clube e escolheu Adílson Monteiro Alves, um sociólogo, para o cargo de diretor de futebol. O início do movimento aconteceu quando Adílson propôs uma política de dar mais voz aos jogadores do clube e contava com mentes politizadas lideradas por Sócrates.
Adotaram, então, um sistema democrata dentro do time, em que todos do clube (jogadores, comissão técnica, diretoria, funcionários) fariam, através de votos com pesos iguais, escolhas do time, desde escalação até vendas e contratações.
O marketing do clube foi o que trouxe a visão política da maioria do Corinthians para a torcida, quando começaram a estampar mensagens como “Eu quero votar para presidente” e “Diretas já” nas camisetas do clube. Para Angeli, o posicionamento do Corinthians foi de grande importância para a volta da democracia. “Foi um ato de coragem. As mensagens atraíram atenção principalmente dos alienados, que não tinham se dado conta da situação do Brasil naquela época.”
Resultados dentro de campo
O Timão, logo no primeiro ano da aplicação desse sistema democrata, chegou às semifinais do brasileiro e, nos anos de 1982 e 1983, obteve o bicampeonato Paulista. Além disso, o time quitou todas as dívidas e ainda deixou milhões de reais de reserva no caixa do clube.
Fim de uma era
A decadência do time nos anos de 1984 e 1985 seguida do início do Clube dos 13, que exigia a figura presidencial do time para o ingresso, foram fatores cruciais para o fim da Democracia dentro do Corinthians. Além disso, Sócrates afirmou que sairia do Corinthians se a Emenda Constitucional Dante de Oliveira, que visava reinstaurar as eleições diretas no Brasil fosse reprovada. Faltando 22 votos, a Emenda foi vetada, Sócrates cumpriu com sua palavra e foi para a Fiorentina, da Itália.
Pós-Corinthians
O Doutor fez passagens pouco expressivas na Fiorentina, Flamengo, Santos e encerrou a carreira de jogador no Botafogo-SP, em 1989.
Também comandou o Botafogo-SP, LDU e o Cabofriense como técnico.
Alcoolismo
Sócrates foi internado em agosto de 2011 com hemorragia digestiva, causada por hipertensão portal. Ficou internado vários dias e, após receber alta, admitiu em rede nacional sua dependência. Em dezembro do mesmo ano, Sócrates foi internado mais uma vez devido uma intoxicação alimentar que, devido a sua saúde já debilitada, se transformou em um choque séptico.
Morte
Ainda quando jogava no Timão, reza a lenda que Sócrates proferiu a frase “Quero morrer num domingo de Corinthians campeão”. O Doutor faleceu dia 4 de dezembro de 2011, data em que o Corinthians disputou a última partida do Campeonato Brasileiro e se sagrou campeão naquele domingo após empate sem gols contra o Palmeiras.

Impressões
Como forma de homenagem, o Corinthians construiu um busto de Sócrates no Parque São Jorge, em 2012.
Até hoje, o belenense que conquistou os corações dos Corintianos é considerado um dos maiores jogadores da história do Brasil e do mundo. Ele foi grande responsável para o aumento das manifestações políticas dentro do futebol. Sócrates mostrou que o esporte deve ser uma representação do povo e, por isso, as manifestações se fazem necessárias para instruir, unir e eventualmente causar mudanças na política.
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