Desavença com jogadores, maus resultados e futebol pouco vistoso: entendendo a demissão de Aguirre
- Na Marcação
- 23 de nov. de 2018
- 4 min de leitura
Atualizado: 24 de nov. de 2018
Por Caio Coutinho 23/11/2018 | 09h09
O técnico Diego Aguirre foi demitido do São Paulo há quase duas semanas, no domingo, dia 11, após um empate pífio contra o Corinthians no Morumbi. Na ocasião, o tricolor tinha 58 pontos e era o quinto colocado (o que o classificava para a primeira fase da Copa Libertadores). Aguirre foi contratado em março desse mesmo ano e comandou o time por 8 meses. Foram 43 jogos com 19 vitórias, 15 empates e 9 derrotas.
Com um aproveitamento de 55.81%, o melhor desde o ídolo Muricy Ramalho, Aguirre levou o São Paulo até a Libertadores. Se perguntássemos a qualquer torcedor do time no começo do ano, grande maioria não tinha grandes expectativas com o resto da temporada tricolor, muito menos com uma vaga na maior competição das Américas.
OS MOTIVOS
Desentendimento com Nenê
Aguirre não tinha o elenco em mãos e teve dificuldade pra lidar com problemas extracampo. Um desses problemas se chama Nenê. O jogador experiente de 37 anos se mostrou displicente ao reclamar das decisões do técnico e chegou até a “fazer biquinho” ao ser substituído em partida contra o Cruzeiro. Nenê vinha de más atuações e tinha um outro relance de bom futebol. Nesse ponto, é compreensível que Aguirre ficasse insatisfeito com suas atuações, ainda mais com o grande nível técnico que o meia já demonstrou ter. Entretanto, o elenco do São Paulo não possuía alguém do mesmo nível.
Maus resultados
Como substituto de Dorival Júnior, que fazia um trabalho de resultados razoáveis e um futebol não muito agradável, Aguirre teve um bom começo no tricolor. O time chegou a ser o líder do Campeonato Brasileiro por algumas rodadas e se manteve entre os 4 primeiros na maior parte da competição. É provável que a diretoria e a torcida tenham se acostumado mal, pois o elenco do São Paulo é limitado e sem peças de reposição.
Quando os desfalques aconteceram, o técnico uruguaio precisou improvisar. E aí vieram as chuvas de críticas e de maus resultados. Do mês de setembro pra cá, o São Paulo realizou 12 jogos sob o comando de Aguirre, somando apenas 2 vitórias, com 6 empates e 4 derrotas. É um aproveitamento de zona de rebaixamento.

OUTRAS VISÕES DA DEMISSÃO
O blog Na Marcação foi atrás da opinião de profissionais que acompanham o dia-a-dia do São Paulo, a fim de termos outras visões sobre o que levou à demissão de Diego Aguirre.
· Mario André Monteiro, jornalista, editor do IG Esporte e torcedor do São Paulo:
- "O principal motivo da demissão do Aguirre foi a falta de resultados que mantivessem o São Paulo na liderança. Mesmo depois de um primeiro turno excelente, o time caiu de rendimento no segundo, perdeu a ponta e isso foi determinante para queda do Aguirre. Mas a queda de rendimento tem explicação: as convicções erradas de Aguirre em muitos momentos. Tudo bem que a perda do Everton por muitas rodadas prejudicou demais o trabalho do técnico. Mas ele inventou demais nas escalações, colocando laterais como pontas, zagueiros na lateral e até volante como atacante (Araruna jogou uma vez de ponta direita). Acho que essas invenções desagradaram demais a torcida, desagradaram a diretoria e, com os resultados ruins, a situação do Aguirre ficou insustentável. Com ele o time teve garra, teve padrão de jogo, mas o próprio técnico colocou tudo a perder com improvisações e teimosias em muitos casos".
· Giovanni Chacon, jornalista e setorista do São Paulo na Jovem Pan:
- "Ao juntar tudo que eu conheço durante toda a trajetória do Aguirre, antes mesmo da chegada dele, sei que o Leco gostava do nome do Abel Braga, mas Lugano trouxe o nome de Aguirre, bem como Ricardo Rocha e Raí deram o aval. Leco bancou e Aguirre veio com status de desconhecido, porque treinou o Internacional e o Atlético-MG, mas nunca teve grandes resultados, vencendo apenas um Campeonato Gaúcho e a Flórida Cup.
Aguirre chegou com uma mudança tática em relação ao último trabalho, que é uma grande inconstância no São Paulo, né. Começou com derrota contra o São Caetano. Depois foi se acertando, fez um estilo de jogo que para o Brasil é necessário. É o jogo feio, mas que ganha. E o São Paulo tem um elenco limitado, com poucas peças de reposição, o que obviamente uma hora iria pesar.
Então foi uma sequência de coisas: a insatisfação do torcedor, por muitas vezes achando que ele escalava mal; a bagunça interna, né, criada por um jogador ou outros jogadores que encabeçaram isso. Logo, Aguirre, uruguaio sangue quente que deve ser, não ia aceitar isso e bateu de frente com pessoas que ficaram insatisfeitas, uma delas o presidente do clube.
Eu acho que ele foi um pouco justiçado nisso. Fez um ótimo trabalho pelo São Paulo, que até agora tem cinco derrotas no Campeonato Brasileiro e isso seria inimaginável para qualquer torcedor do time".
· João Maria, torcedor do São Paulo e já anteriormente entrevistado pelo blog:
" Nos últimos 2 meses a minha confiança com Aguirre (e acredito que de uma boa parte da torcida) caiu muito por diversas insistências nas escalações, fazendo o intenso uso de improvisações e não dando chance aos meninos que tem aparecido na base".
O PÓS-AGUIRRE
André Jardine assumiu o clube interinamente após a demissão de Aguirre. Ele é gerente de equipe de futebol do SPFC. Como provavelmente o clube não vai fazer uma aposta em André, surgem algumas opções de técnico para o próximo ano. O nome de Abel Braga já foi especulado pela imprensa. Houve também boatos de que Cuca estaria cotado, mas o técnico do Santos já declarou passar por problemas médicos.
Seja quem assumir, o técnico terá muitos problemas pela frente. Além de novas peças de reposição, o São Paulo necessita, mais do que nunca, de uma reforma política, gestual e estrutural.
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